Queria sair do silêncio

Hoje encontrei no ônibus o irmão de uma das amigas que mais amo. Nos conhecemos desde a escola e sempre convivi muito com a família dela, vivia indo na casa deles.

Esse irmão nasceu surdo. Quando a mamãe dele estava grávida, ela teve rubéola e por conta da doença ele nasceu com essa deficiência. Ele também não fala muito bem. Ele consegue articular umas palavras e faz uns sons que soam bem estranhos.
Sempre tive dificuldade de me relacionar com ele. E isso sempre me deixava muito constrangida. O constrangimento e a dificuldade não eram/são pela deficiência dele, mas pela minha própria em não saber como me comunicar com ele e por não entender quando ele tentava me falar alguma coisa.

Hoje quando nos vimos, veio o tal contrangimento de novo. Fiz aquele levantar de sombrancelha e dei o melhor sorriso que podia. Ele retribuiu o sorriso e fez aquele sinal positivo com o dedão da mão.
Eu queria tanto saber conversar com ele, perguntar se ele tá bem, em que ele tá trabalhando, se ainda estuda, se tá namorando alguém. Essas coisas que a gente sempre quer saber de quem a gente gosta, conhece a muito tempo mas não vê tanto.

Eu sinto um carinho por ele, por ter conhecido ele pequenininho, por ter visto sempre o quanto aquela família se esforçou pra ele ter se tornado um homem de bem que ele se tornou mesmo. Nunca vi ele reclamando de nada, nem minha amiga nunca comentou algo nesse sentido, dele ser revoltado, excluído ou algo do tipo.

Vi também que ele encontrou outra pessoa conhecida. Eles desceram jutntos, eles se tocaram, sorriram, ele abraçou ela e os dois seguiram andando um do lado do outro, sem falar mais nada.

Mas sempre fico pensando como será que ele se sente no meio desse silêncio?

Ele mora no silêncio. Assim como uma boa parte de pessoas da nossa sociedade. E a maioria de nós nem se importa, a não ser quando temos alguém muito próximo.

Imagina o que é viver sem ouvir música, sem conseguir assistir filme sem legenda, sem conhecer o canto de um passarinho, o barulho das ondas, o "tilintar" da chuva, a voz dos que amamos...
Eu fico me sentindo bem egoísta, no meu mundinho barulhento. Engoísta por nunca ter buscado aprender a me comunicar com o irmão da minha amiga, hoje talvez seríamos amigos. E também por achar que eu talvez seja mais feliz que ele porque eu posso umas coisas que ele não. Tem também um pouquinho de sentimento de superioridade nisso. Coisa chata se sentir assim.
Nunca falei sobre isso com minha amiga, por vergonha, sei lá. Mas hoje precisava falar.
Espero que esse incômodo passe e que um dia eu aprenda a ser uma pessoa melhor, que se dedique um pouco mais a conhecer o outro, com todas as suas particularidades.

Bejocas e bom dia!!!!

4 comentários:

Luana! disse...
9 de julho de 2009 às 12:28

Poois é!
Tanto não somos perfeitos, que não é só de deficiências físicas que o ser humano 'é feito'. Temos deficiências de integridade, de caráter, de solidariedade e de fraternidade.
Por isso, é bem normal os ditos 'normais' se sentirem superior diante daqueles que têm deficiência física, como se a deles fosse bem pior que as nossas mesquinhez. Sim, mesquinhez...geralmente, eles se adaptam, levam a vida numa boa e nós vivemos reclamando.
Somos a deficiência da justiça em pessoas.

Anônimo disse...
9 de julho de 2009 às 13:56

Eu conheço duas pessoas também que são deficientes: uma auditiva e outra visual. E outro dia refletia sobre isso, sobre a nossa necessidade dos sentidos e sobre como eles nos limitam, muitas vezes. Temos todos eles (visão, audição, olfato, paladar, tato) mas não sabemos usá-los separadamente de forma plena, como fazem quem não tem um deles. Eu já me imaginei num mundo sem som e o pensamento trouxe uma sensação horrível. O rapazinho surdo é muito ativo, desde criança sempre se deu bem com jogos eletrônicos, sempre fui uma criança muito esperta e inteligente, mas eu também não conseguia ultrapassar meus limites no diálogo. Tentava ser como ele, que me entendia perfeitamente. Já a menina cega tem uma memória incrível. Sabe quem chega em casa de longe, apenas pelo som dos passos, pelo cheiro, vai diferenciando as pessoas. E não conseguimos enganá-la. Ela sente a presença e a verdade da voz que do que você diz a ela. É impressionante.
Eu já pensei certa vez em me matricular num curso de libras, mas não levei em frente.
tive também uma experiência fantástica com um grupo de alunos com deficiência auditiva. Eu era monitor de uma exposição artística que tinha espaços que trabalhavam a imagem com som ambiente. Pensando que eles não estivessem "ouvindo" o som ambiente, pedi que expressassem a sensação que a sala produzia neles. Impressionante foi vê-los começarem a se balançar no ritmo do som que tocava no momento. Não conseguiam ouvir pelo ouvido, mas pela pele, pelos poros. E sentiram a "essência" da música. Foi uma experiência interessantíssima.

Acredito que às vezes não conseguimos nos expressar com diálogos, mas o sorriso deve ter dito muita coisa a ele. Acredite!

Saudade de tu, cocozinho!

Anônimo disse...
9 de julho de 2009 às 19:30

Acho que a Luana e o Alberitnho falaram tuudo.
"Somos a deficiência da justiça em pessoas." (Luana)
E que imagem linda, dona Dani!!
Beijos nesse seu coração lindo!!!

Anônimo disse...
14 de julho de 2009 às 14:15

GRANDES VERDADES VC DISSE MAS TEMOS A CHANCE DE CORRIGIR ESSES NOSSO GRANDE ERRO. EU TAMBÉM JÁ ME SENTI ASSIM TANTO QUE FUI NA ESCOLA DE PESSOAS ESPECIAIS PRA APRENDER LIBRAS MAS NÃO CONSEGUI VAGA (AINDA)ENTRETANTO CHEGARA A MINHA VEZ . ATE LA COMO VC MESMA DISSE UM BOM E SINCERO SORRISO GUENTA O TRANCO RSRSRRSRSRSRRSRSRS
BOA QUARTA !

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